A China é um país de enorme extensão territorial, com um território de 9.597.000km², é o terceiro maior país do mundo em área terrestre, atrás apenas dos Estados Unidos da América, com 9.834.000 km², e a Rússia, com seus impressionantes 17.100.000 km². Para evitar enormes disparidades entre a posição do sol e o horário que nossos relógios indicam, usamos os fusos horários, dividindo o planeta em 24 “fatias” que usam a mesma regra de tempo. É de se pensar que, assim como no Brasil, onde temos quatro fusos diferentes, a China seguiria esse modelo para organizar seu tempo, certo? Errado. Ironicamente, o país inteiro adota apenas um horário, o que pode causar algumas disparidades interessantes em algumas regiões. Quer saber mais? Vamos explicar!
Em sincronia com Pequim
Antes da vitória da Revolução Chinesa em 1949, a China mantinha-se em um estado de constante conflito interno. Diversos grupos disputavam o poder no país, principalmente após a queda da dinastia Qing, em 1911 e a instauração de uma República no país. Em 1912, foi estabelecido que a China utilizaria cinco fusos horários diferentes, baseados nas regiões de Zhongyuan, Longshu, Tibete, Kunlun e Changbai, que apresentavam uma diferença entre cinco horas e meia e oito horas e meia do horário de Greenwich, o meridiano central de referência para os fusos horários.
Entretanto, quando os comunistas, liderados por Mao Tsé-Tung venceram os nacionalistas liderados por Chiang Kai-Shek em 1949, marcando o fim da guerra civil chinesa e o começo do governo de Mao, o Partido Comunista Chinês decidiu que, em um esforço voltado a uma maior união entre os chineses, além de facilitar a organização do governo, todos os fusos horários do país na época seriam substituídos por apenas um fuso, o de Pequim. Então, se os relógios marcam 7 horas da manhã na Cidade Proibida em Pequim, também será 7 da manhã em Urumqi, localizada a mais de 3 mil quilômetros a oeste da capital chinesa.
De acordo com os planos originais do Partido Comunista Chinês, adotar uma hora única para todo o país facilitaria o processo de organização dos meios produtivos e da própria economia, organizando o trabalho e a produção em nível nacional, sendo esse tipo de organização algo muito importante em uma economia altamente centralizada como a do período no qual Mao Tsé-Tung foi governou o país.
Insônia e outras inconveniências
As regiões do país mais próximas de Pequim abordam o fuso horário único apenas como uma pequena inconveniência, sendo necessários apenas pequenos ajustes nos compromissos e atividades em geral. Os trabalhadores do campo, que tendem a guiar seu tempo de trabalho de acordo com o nascer e o pôr do sol, também não sentem muitos efeitos negativos com a organização do tempo adotada. Entretanto, quanto mais a oeste se viaja, mais eventos curiosos são perceptíveis, e maiores são as inconveniências apontadas. Afinal, como dito acima, regiões que estão a milhares de quilômetros de Pequim, estão sujeitas ao mesmo horário, o que faz com que em cidades como a já citada Urumqi, capital da província de Xinjiang, o sol só apareça às 10 da manhã, ou até mais tarde que isso.
Muitos habitantes da região acham incômodo ir trabalhar no escuro, quando as estrelas ainda estão brilhando no céu, e outros relatam dificuldades em se adaptar, já que as diferenças entre as horas apontadas no relógio e a posição do sol levam a situações estranhas, como por exemplo, jantar à meia-noite, e problemas na hora do descanso, com as horas de sono perdidas. Além disso, o sistema de fuso único chinês aprofunda inclusive divisões étnicas na região de Xinjiang.
O grupo étnico dos Uigures, povo de origem turcomena que habita a região de Xinjiang, tende a ajustar seus relógios em duas horas antes do horário de Pequim, numa tentativa de maior sincronia com a hora local, enquanto que os chineses da etnia Han, predominante no país, tendem a seguir o horário de Pequim. Isso pode levar a diferenças e confusões que frustram os habitantes da região, principalmente os mais jovens, que têm maior tendência a interagir com diferentes etnias. Por exemplo, um jovem chinês Han é amigo de um Uigur, e ambos combinam de comer em um restaurante à uma hora da tarde. Muito provavelmente, o jovem Han vai chegar duas horas antes de seu amigo Uigur, o que o deixa com duas alternativas: esperar todo o tempo que resta, ou simplesmente desmarcar o compromisso.
O exemplo acima é apenas mais um dentre os vários inconvenientes que o fuso único chinês traz para os cidadãos mais ao oeste do país. Aeroportos, escolas e estações de trem também funcionam em horários “pouco convenientes”. Em alguns casos, exames de escala nacional (como o ENEM no Brasil), são aplicados à noite em algumas regiões, e estabelecimentos comerciais muitas vezes operam “no escuro”.
Atualmente existem algumas propostas de alteração do sistema de horários da China que ainda precisam ser discutidas e aprovadas para que entrem em pleno funcionamento. Enquanto isso, aqueles que mais são afetados pelos horários curiosos do fuso único não podem fazer muito senão adaptar suas realidades e estilos de vida, e se possível ajudarem os turistas, que podem ficar um tanto confusos ao verem o sol nascendo às 10 da manhã. Por isso, se você tiver vontade de viajar para a China e conhecer as regiões mais distantes de Pequim, não se esqueça deste artigo!